[RP Livre] A Máscara do Fracasso

Me movo por dentre as árvores até encontrar uma área da floresta pouco visitada e uma construção que me era muito familiar. Afinal esse era o templo do clã Noumen.

Adentro a grande entrada com vários símbolos desenhados, deixando no saguão minha máscara e camisa, neste templo devíamos ser nós mesmos. Como uma grande contradição, o templo dos atores eram onde eles não atuavam. Aqui não havia Tobi ou qualquer outro personagem, quem estava entrando era Noumen Kintsugi.

Após o saguão entro no local de reuniões, o grande anfiteatro, agora com suas arquibancadas esvaziadas. Recordava lembranças de tempos alegres, quando eu era apenas uma criança entre as muitas sentadas ali para o festival do clã, a vida simples e despreocupada que eu sentia saudades.

O barulho de água corrente escorrendo lentamente era a única coisa a quebrar a morbidez daquele local. Uma pequena fonte despontava no meio do prédio, entre o local da platéia e o palco. Olho meu rosto no reflexo da água, passando os dedos trêmulos pela grande cicatriz que o cruzava. Kintsugi. Não era um nome glorioso para um filho. Não significava o prodígio, o primogênito ou qualquer desses nomes comuns. Kintsugi era algo quebrado, partido em pedaços, colado com cola de ouro para que suas falhas fossem realçadas e valorizadas. Será que eu estava me colando depois de ser esmigalhado pela realidade?

Passo uma porção larga de água no meu rosto, lavando-o. Respiro fundo, sentindo suas gotas frias escorrerem até meu peito. Subo no palco, me dirigindo a única coisa ali presente, um grande altar para os nossos mortos. Eles eram muitos, ainda mais levando em conta sermos um clã novo e pequeno. Para cada morto uma máscara foi deixada no altar e quase todas foram colocadas ao mesmo tempo ali. Sento-me de frente ao altar, abraçando meus joelhos, com minha cabeça entre os joelhos, como já havia feito tantas vezes antes.

Eu tinha apenas oito anos quando a invasão aconteceu, me deixando ali com aquelas paredes de pedras solitárias. Mesmo acolhido no palácio ou com os outros órfãos, não mudava o vazio que sentia ao encarar as máscaras dos meus pais ali naquele altar. Havia feito tantas promessas aquelas máscaras deixadas para trás. Jurei vingança contra Kumogakure. Jurei proteger Akin como meus pais haviam feito com o rei T'challa. Trazer glória a Wakanda. Ensinar os outros órfãos do clã Noumen nossos segredos. Me tornar um digno líder do clã. Promessa vazias de um tolo. Haviam passado dez anos e eu ainda era patético, fraco, sem nenhuma capacidade de proteger nada nem ninguém. Apenas me escondendo atrás de personagens e máscaras para que ninguém se preocupasse comigo.

Aquelas máscaras no altar não iriam interpretar mais nenhum personagem, nunca mais mudariam de expressão nem teriam o calor no olhar que acalentava seus conhecidos. Apenas órbitas vazias que me encaravam acusatoriamente. Adiciono mais uma promessa, mesmo que fosse só para reforçar as anteriores. Eu ainda era um tolo hipócrita, afinal. Minha ferida lateja sob as bandagens, me tirando de meu torpor. Havia mais água em meu rosto do que quando a lavei, mas não havia voltado a fonte. Kintsugi. Aquela ferida iria cicatrizar, iria se tornar mais um pedaço colado em ouro. O caminho era longo, mas não iria me afogar em auto-piedade até lá. Iria transformar essa tragédia em uma comédia enquanto não podia encará-la. Me levanto, visto a máscara. Tobi sorri para o mundo..

Levanto minhas defesas, afasto todos do meu íntimo, penso em piadas para distrair. Uma caricatura de mim mesmo, alguém que não seria levado a sério. Vou continuar a rir...

...desesperadamente.